Vila Viçosa é uma terra cheia de história, pelo que na Pousada, contígua ao emblemático Paço Ducal, se respira história em todos os recantos. Para quem é apreciador da matéria, está dado o mote para uma estadia que pode ser arrebatadora, levando-nos até ao século XVI e trazendo-nos de volta, através de repetidos factos e episódios e curiosidades, capazes de produzir assunto para vários tomos de história, de romance literário ou, até, se quisermos, de romance-histórico. A preservação das labirínticas salas, dos extensos corredores, dos muitos átrios e dos claustros é ponto assente aqui e penso que ponto de honra nas Pousadas de Portugal, com gestão a cargo do Grupo Pestana. Atente-se na decoração da sala de estar maior, da sala de jantar, da sala do pequeno-almoço, nos magníficos tectos abobadados de várias salas contíguas aos claustros, ou nos variadíssimos frescos, restaurados ou em processo de restauro, que nos surpreendem a cada recanto. O conforto que hoje nos é oferecido nesta unidade hoteleira, tratando-se do mesmíssimo espaço, não será, naturalmente, comparável com aquele de que as freiras dispunham, nos remotos anos de 1500, mesmo sendo estas, na sua maioria, fidalgas, com direito a profusas mordomias, mas predispõe-nos, de imediato, para o que terá sido a vivência destes espaços, naquelas épocas. As celas das monjas são hoje os quartos dos hóspedes, amplos, com casa de banho espaçosa – o mármore e sempre o mármore – guarda-roupas arejados, camas “king-size” com colchão confortável e o apontamento do dossel a não deixar escapar a reminiscência histórica. A sala de pequenos-almoços, de clara inspiração campestre, mantém o pitoresco aconchego, acrescenta funcionalidade e serve refeições matinais de enorme riqueza, nutricional e gastronómica, privilegiando produtos endógenos como o pão, os queijos, os enchidos ou os bolos caseiros, mas em que mesmo as costumeiras compotas ou os internacionais croissants são um encanto para a vista e uma delícia para o palato. Foi pena o restaurante (jantares) só estar a funcionar ao fim-de-semana (o que, aliás se verifica em vários pontos de interesse turístico da vila e é pena), pois muito me aprazeria provar as suas propostas de pratos regionais de outros tempos, em particular o peculiar “Manjar das Chagas”, sobremesa à base de carne de coelho, inspirada na cozinha da época, em que se aproveitava os restos das carnes de caça para fazer sobremesas. Entre os inúmeros recantos da Pousada, não esquecer de procurar pormenores que fazem toda a diferença para uma visita edificante como “a roda” da antiga entrada do convento, ou o próprio sistema de esgotos, que se destaca à noite, iluminado sob o piso envidraçado do átrio da recepção e que é acessível pelo jardim exterior. Apenas um único reparo, que tivemos oportunidade de registar in loco: um monumento com tamanho peso histórico merece, com urgência, a implementação de informação narrativa da cronologia, do propósito e das curiosidades de cada um dos espaços q
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